Criptofauna - Kunekune
Kunekune em um campo de lavanda, feito pela incrível Sarah Nazik!
Bem-vindo
mais uma vez, amigo do Tubarão Asmático, ao Criptofauna! A série onde vamos
explorar, discutir e aprender sobre os seres mais místicos e misteriosos do
mundo! Preparem suas bombinhas porque hoje nós vamos concluir o especial do
Slenderman com um dos seres mais perigosos do Japão moderno!
Meus
queridos, se coloquem na seguinte situação: vocês viajam pra um fim de semana
no campo com os amigos. Sem poluição, sem barulho, sem muita gente, só você,
suas pessoas favoritas e a natureza. Vocês correm, brincam, jogam jogos de
tabuleiro, mexem com os bichos, pescam, fazem tudo pra ter um fim de semana
digno de ser lembrado pra sempre.
O
último dia chega e, triste pelo fim dessas curtas férias, você vai à janela pra
apreciar mais uma vez os pastos verdes e abertos próximos ao lago. Você olha de
um canto a outro da área, apreciando a floresta que fecha dos dois lados o
campo florido. Então você torna sua visão de volta ao centro e nota algo
estranho, que não estava lá no começo.
Uma
forma alta, longa e branca dança ao vento, se mexendo intensamente como um
lençol pendurado no varal durante um vendaval. “De onde isso surgiu?” – Você se
pergunta – “Isso não estava aqui há dois segundos!” Você estranha ainda mais
aquilo ao olhar pra grama alta e perceber que ela está imóvel, algo que vale
também pras folhas e flores. Um sentimento estranho começa a tomar conta de
você. Algo entre a curiosidade de descobrir o que é o desespero de tentar
fugir.
Você
decide desvendar o mistério daquela longínqua forma branca, mas tem medo de se
aproximar. Você chama um de seus amigos mais próximos, aquele que sempre leva
uma câmera DSLR com vários tipos de lentes, e pede pra ele confirmar se tem
mesmo algo lá. Seu coração dá um salto quando ele menciona a forma branca. Você
pede a câmera pra poder olhar mais de perto. Hesitante, seu amigo te dá a
máquina. “Eu não acho isso uma boa ideia…” Você ignora e leva o visor ao olho,
na esperança de entender aquele ser que destoa completamente do ambiente. Você
mira ele e ajusta o foco, começando a aumentar lentamente o zoom.
Sua
cabeça dói como se estivesse sendo martelada. Você tenta pedir ajuda, mas não
consegue. Você começa a gritar e se contorcer em uma “dança” macabra similar à
dele. Seus amigos se desesperam tentando te segurar sem sucesso enquanto você
balbucia sobre o que você agora sabe que é uma criatura. Eles te levam embora,
na esperança de encontrar um médico ou alguém que possa ajudar. Sua pouca
sanidade restante se esvai enquanto vocês se afastam e você olha mais uma vez a
forma branca dançando em meio ao campo enquanto ela se afasta.
Essa
história é um exemplo do poder terrível do Kunekune, um dos mais bizarros
youkais modernos, junto da Hachishakusama. Mas essa não é a única coisa que ele
compartilha com a Dona Oito Pés, já que ele também é um dos pais do Slenderman.
Mas o que torna esse boneco de posto do mal um dos antecessores do branquelo
sem rosto? Isso é parte do que nós vamos explorar hoje!
Depois
da história no começo, tenho certeza que você está se perguntando sobre o que é
o Kunekune e o que ele faz. Pra começar, ele é um pouco difícil de descrever,
já que ele é meio... abstrato.
Ele
geralmente aparece como uma forma vagamente humana, alta, branca e disforme que
lembra uma folha de papel ou tecido. Ele se contorce e mexe constantemente em
uma dança bizarra, como se estivesse em uma ventania, mesmo em dias desventosos
(Sim, essa palavra existe). Esse comportamento gerou o nome da criatura, que é
baseado na onomatopeia japonesa pra “virar” ou “torcer”. No campo, onde ele é
mais comum, ele é branco como a neve, enquanto na cidade ele é negro como
carvão, sugerindo que a poluição tem alguma influência sobre ele. O Kunekune é
a versão maligna de um boneco de posto de gasolina.
Representação da criatura pelo artista Gen-yo-ken, Tumblr dele aqui!
Mas
o que torna ele tão maligno? Bom, o Kunekune faz pouca coisa com MUITO poder.
Ele aparece sempre longe das vítimas, como uma forma confusa que destoa do
cenário e chama atenção. O maior perigo que esse origami do mal está no olhar. Quem
olha por muito tempo a forma distante e bizarra do Kunekune entra em um estado
irreversível de loucura. Coisas como lunetas e binóculos só aceleram o
processo, tornando os curiosos preparados, como observadores de pássaros e
outras pessoas com hobbies bizarros, presas fáceis pro Kunekune.
Quem
cai na maldição do homem de papel vira prisioneiro de uma vida de sofrimento e
dor, carregada por frases confusas e embaralhadas sobre a criatura e,
terrivelmente, por tentativas de imitar a “dança”, o que pode levar a
distensões, fraturas e, em alguns casos, à morte. Os “espertinhos” que tentam
se aproximar sem olhar também sofrem um destino cruel na forma de uma morte
rápida provavelmente vinda dos membros de papel da criatura, que devem cortar
rápido e fundo.
A
loucura do Kunekune age como uma maldição, mas não se tem certeza se esse seria
o nome correto, já que maldições podem ser quebradas e até hoje ninguém,
conseguiu fazer isso, o que me leva a acreditar que o Kunekune é um dos seres
mais perigosos do Japão, talvez mais até que a Hachishakusama.
O
mais interessante do Kunekune é que ele é uma antítese pra grande maioria dos
grandes monstros que nós conhecemos em quase todos os folclores. Enquanto os
mortos vivos, demônios e outros seres do pós vida costumam surgir na calada da
noite em lugares estreitos e tenebrosos, o homem de papel assombra a hora do
almoço de áreas abertas em dias quentes de verão. Ele é mais comum no campo,
onde o espaço é naturalmente mais aberto e bucólico. Lá, ele aparece em sua
forma normal branca. As áreas mais fechadas e ocupadas da cidade grande tornam
as visitas do Kunekune menos comuns, mas se você tiver o azar de estar isolado
em uma área ampla ao meio dia, sua forma negra pode vir te encontrar. Apesar de
gostar de campos de plantação de arroz, ele também pode aparecer no mar, onde
todo o espaço é aberto.
Assim
como a Hachishakusama, o Kunekune é um dos youkais modernos que se popularizou
na internet. Mas! Diferente da moça alta, só um ano mais velha que seu filho, o
Kunekune surgiu no distante ano de 2003, em um período de paz entre Shrek e
Shrek 2! Isso torna ele 6 anos mais velho que o concurso de edição que trouxe o
Slenderman ao holofote em 2009, praticamente garantindo que o Kunekune é, junto
com a Hachishakusama, uma das bases dele.
Assim
como com a Dona Oito Pés, não é fácil dizer se a lenda do homem de papel já
existia antes do seu surgimento na internet. O que é fácil de dizer é que ele
fez sucesso. Vários relatos da criatura foram postados desde 2003, contando de
incidentes que ocorreram com família e amigos que hoje são uma sombra do que já
foram um dia. Alguns dizem que esse dançarino macabro é baseado nas lendas de
espantalhos que ganham vida durante a noite pra assombrar os campos, mas isso
também não pode ser provado.
Não
dá pra saber se o Kunekune é real ou não, mas o fato é que, pra mim, ele é uma
das criaturas mais sinistras da história do Japão e isso se dá em parte pelo
seu mistério e simplicidade sinistros. O medo que eu tenho de olhar pela janela
um belo dia e ver aquela forma negra cambaleando pelas ruas vazias da cidade é
enorme e com certeza compartilhado por MUITA gente.
Ele
é o pilar fundamental e indiscutível da aparência do Slenderman e do poder dele
de confundir e manipular as vítimas, complementando a parte dada pela Dona Oito
Pés, vista na altura, no tipo de vítima e na perseguição impiedosa.
Kunekune em Dasei 67 Percent, representando meu dia-a-dia perfeitamente em uma página.
O
Kunekune é até bem conhecido no meio da cultura pop, aparecendo em algumas
obras ligeiramente famosas. Ele faz uma aparição ligeira no capítulo 28 de
Dasei 67 Percent, um mangá de comédia adulto, como a peça central de uma
história de terror sendo lida pela protagonista. Ele também compartilha o
spotlight com a Hachishakusama em Yami Shibai 1, onde sua história aparece no
episódio 13 pra encerrar a temporada com um dos episódios de clima mais
sinistro da série. O choro da mãe do garoto no finalzinho do episódio é genuíno
e desesperador, como de se esperar de um familiar de uma vítima assim.
A versão de Yami Shibai do Kunekune, que aparece no fim do episódio 13 da primeira temporada depois de muito suspense.
Outra
participação grande que o branquelo teve foi no clássico feito no Wolf RPG Editor,
Paranormal Syndrome, um jogo baseado no folclore moderno das lendas urbanas
japonesas. Coisas como o Kunekune, uma máscara Noh viva, o pesadelo do trem e
até mesmo o ritual do Hitori Kakurenbo, o famoso Esconde-Esconde Sozinho, (algo
que vamos discutir aqui um dia) fazem parte do que tornou o jogo um sucesso.
Nosso amigo de papel em Paranormal Syndrome.
E
assim encerramos mais um Criptofauna, e com ele nosso especial sobre as origens
do Slenderman! Espero que vocês achem o Kunekune tão fascinante quanto eu acho
e que vocês nunca tenham o azar de encontrar ele por aí. Não esqueçam de
compartilhar o post e de me perdoar pelo atraso! Até o próximo post, eu deixo
vocês com mais uma incrível arte da criatura da semana, feita pela maravilhosa
Sarah Nazik! Eu sou o Tubarão Asmático, jornalista e criatura marinha! Muito
obrigado e até a próxima!
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